sexta-feira, março 18, 2022

Memorial de Aires


Creio que agora posso afirmar que terminei de ler o meu primeiro romance de Machado de Assis e começando logo pelo último que ele escreveu.

Como todo aluno brasileiro tive contato com ao menos um romance de Machado na escola e o que eu lembro de ter lido foi o Helena, que é o seu terceiro Romance.

Memorial de Aires é o seu 10º e último romance publicado postumamente ainda no ano de seu falecimento em 1908.

Gostei bastante do livro, mesmo sendo escrito na forma de diário e contando uma simples história que é narrado através de um diplomata aposentado que depois de passar muitos anos fora do Brasil, voltava para o Rio de Janeiro para curtir a sua aposentadoria.

O domínio da narrativa que Machado possui beira a perfeição e olha que estou muito longe de ser um crítico literário para perceber tal proeza. O narrador nos conduz pela história com os detalhes que merecem ser contados sem se aprofundar muito nem ficar raso demais.

Em um momento o conselheiro Aires reflete sobre o que deve ou não escrever em seu diário até para não cansar os leitores do seu diário assim que morrer.

"Papel, amigo papel. não recolhas tudo o que escrever esta pena vadia. Querendo servir-me, acabarás desservindo-me, porque se acontecer que eu me vá desta vida, sem tempo de te reduzir a cinzas, os que me lerem depois da missa de sétimo dia, ou antes, ou ainda antes do enterro, podem cuidar que te confio cuidados de amor.

Não, papel. Quando sentires que insisto nessa nota, esquiva-te da minha mesa, e foge. A janela aberta te mostrará um pouco de telhado, entre a rua e o céu, e ali ou acolá acharás descanso."

Tem um momento bem interessante no livro onde o conselheiro refletindo sobre a sua rotina de escrever no diário ele percebe o quanto ele gosta disso. Pensamento que eu mesmo tenho ao escrever nesse blog nesses últimos 15 anos!

"Qual! Não posso interromper o Memorial, aqui me tenho outra vez com a pena na mão. Em verdade, dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão. Venhamos novamente à notação dos dias."

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