E vamos para o 50⁰ livro lido do ano!
Robert Hugh Benson (1871-1914), ex-sacerdote anglicano convertido ao catolicismo, publicou em 1907 O Senhor do Mundo em um contexto de transformações radicais: o avanço da ciência, o secularismo crescente e o enfraquecimento da fé no Ocidente. A partir disso, ele constrói uma distopia espiritual em que o progresso tecnológico e o humanitarismo político substituem Deus e o resultado é um mundo aparentemente pacífico, mas espiritualmente desolado.
A trama se passa em um futuro onde o catolicismo foi quase erradicado, as religiões tradicionais foram dissolvidas em uma espécie de espiritualismo universal e o Estado mundial, liderado pelo carismático Julian Felsenburgh, governa com base em um culto à paz e à unidade. Felsenburgh é apresentado como um “messias humanista”, aclamado por unir os povos, mas cuja autoridade esconde uma tirania totalitária e anticristã. No polo oposto está o padre Percy Franklin, figura que encarna a resistência espiritual da Igreja diante da apostasia global.
Benson critica a tendência moderna de substituir a transcendência por uma fé no progresso humano. O “humanitarismo” que domina o mundo do romance é, no fundo, uma nova religião política — sem Deus, mas com liturgia, culto e dogmas. O catolicismo, aqui reduzido a um pequeno rebanho subterrâneo, é a última voz que ainda reconhece a existência do mal.
O Senhor do Mundo impressiona pela visão profética. Ao prever um mundo globalizado, governado por um consenso moral relativista e sustentado por uma fé na ciência e na paz universal, Benson antecipou dilemas éticos e espirituais ainda muito atuais. O autor enxerga com clareza o perigo de um mundo que rejeita o transcendente e acerta ao intuir que a negação de Deus não leva à liberdade, mas a novas formas de idolatria.
Mais do que um romance, O Senhor do Mundo é um alerta. Escrito no início do século XX, ele antecipa de modo surpreendente a uniformização cultural, o culto à ciência e a substituição da fé por ideologias políticas. Ao final, Benson deixa claro que o verdadeiro conflito do futuro não será entre nações, mas entre visões de homem: o homem que se faz deus e o homem que se ajoelha diante de Deus.
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