domingo, outubro 19, 2025

O Pai Goriot

Publicado em 1835, O Pai Goriot é uma das obras mais emblemáticas de Honoré de Balzac (1799-1850) e peça central do vasto ciclo A Comédia Humana, projeto literário monumental que buscava retratar a sociedade francesa em toda a sua complexidade moral, social e econômica.

A narrativa se passa em Paris, por volta de 1819, e tem como cenário principal a pensão Vauquer, um microcosmo social onde convivem personagens de diferentes origens e ambições. É ali que se cruzam as trajetórias de Rastignac, um jovem estudante de Direito ambicioso e idealista, e de Goriot, um velho comerciante que se arruinou financeiramente para sustentar suas duas filhas ingratas, Anastacia e Delphine.

O drama central do romance é o amor paterno absoluto e trágico de Goriot, que sacrifica tudo — dinheiro, dignidade e saúde — por filhas que, uma vez casadas e inseridas na alta sociedade, passam a desprezá-lo. Balzac transforma essa relação em uma poderosa alegoria do egoísmo e da corrupção moral da burguesia parisiense, onde o dinheiro se torna o verdadeiro mediador de todas as relações humanas.

Balzac combina realismo minucioso e observação social precisa, descrevendo ambientes, vestimentas e gestos com riqueza de detalhes quase científica.

O romance é considerado o “Rei Lear burguês”, pela semelhança com a tragédia de Shakespeare — um pai dilacerado pelo amor desmedido a filhas ingratas —, mas transposto para o contexto da ascensão burguesa e da luta por status no século XIX. Só que Goriot não tem a sua Cordélia para amenizar a tragédia que se abate sobre si.

A força do romance está tanto no retrato psicológico profundo de Goriot quanto na precisão sociológica da crítica balzaquiana. O leitor, ao final, é confrontado com uma pergunta perturbadora: qual o preço da ascensão social em uma sociedade movida pelo dinheiro?

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