Continuando a saga da Divina Comédia, agora foi a vez do Purgatório que ocupa posição central, funcionando como ponte entre o terror moral do Inferno e o êxtase luminoso que nos espera no Paraíso. É o livro da esperança e da transformação, no qual Dante, guiado por Virgílio, ascende pela montanha do Purgatório, lugar destinado às almas arrependidas que, embora salvas, ainda necessitam expiar suas faltas.
A estrutura é rigorosa: sete terraços correspondem aos sete pecados capitais, cada um purgando o vício através de uma contrapassio simbólica. Ao contrário do ambiente opressivo e imutável do Inferno, o Purgatório é dinâmico: as almas estão em movimento, em processo de depuração, e a paisagem é permeada por luz crescente e cânticos sagrados. Essa atmosfera traduz uma mudança fundamental de tom: o medo e a condenação cedem espaço à possibilidade de redenção.
Ao final do livro temos a entrada triunfal de Beatriz na narrativa que se torna a sua nova guia e que já nos dá um vislumbre do que teremos no Paraíso.
O grande mérito do Purgatório está na sua dimensão humana: é o cântico do arrependimento ativo, da disciplina espiritual e da confiança na misericórdia divina. Ao contrário do Inferno, onde os condenados se tornam estáticos em seus erros, aqui há diálogo, humildade e desejo de mudança. Virgílio, ainda guia racional, começa a ceder espaço a Beatriz, símbolo do amor divino, preparando o leitor para a etapa final da jornada.
Aqui temos um livro contemplativo e esperançoso, celebrando a transformação pela penitência e pelo amor divino. É o cântico onde o homem, entre a queda e a perfeição, luta para purificar-se e tornar-se digno da luz eterna.
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