Foi uma grande jornada com um final digno da fama que essa obra carrega.
O Paraíso é a parte final da Divina Comédia e, ao mesmo tempo, a mais complexa e abstrata da obra de Dante Alighieri. Se no Inferno predominava a concretude das penas e no Purgatório a caminhada esperançosa rumo à purificação, no Paraíso o poeta nos transporta a uma dimensão espiritual de difícil representação, em que a linguagem humana parece insuficiente diante da grandeza divina.
A narrativa se estrutura na ascensão de Dante, guiado por Beatriz, através das nove esferas celestes até chegar à visão beatífica de Deus. Cada esfera corresponde a um grau de perfeição e virtude, habitado por almas que, de alguma forma, não alcançaram a plenitude da união divina, mas que participam da glória eterna. O poeta dialoga com santos, doutores da Igreja, figuras bíblicas e até com seu bisavô Cacciaguida, que lhe revela sua missão profética e o exílio que enfrentará.
Foi o canto mais exigente, mas a sua leitura atenta e pausada compensa todo o esforço. O próprio autor se esforçou em traduzir o indescritível dando origem a algumas passagens de uma beleza sublime.
Podemos considerar o Paraíso ao mesmo tempo o auge e o limite da Divina Comédia. É o auge porque cumpre a promessa da jornada: a elevação do homem pela graça até a visão direta de Deus. É o limite porque a experiência divina é intransmissível em palavras e o próprio poeta reconhece sua incapacidade de expressar plenamente o que viu, transformando a falha da linguagem em parte essencial da mensagem.
Assim, o Paraíso é menos narrativo e mais contemplativo: exige fé, paciência e entrega intelectual. Para alguns, pode parecer chato, mas pra mim, foi como se eu tivesse tido a oportunidade de vislumbrar um pequeno pedaço do que nos espera caso sigamos o Seu caminho.
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