Depois de concluir a jornada clássica subindo os degraus da Ilíada, Odisseia, Eneida e Metamorfoses; chegou o momento de encarar o clássico do poeta florentino Dante Alighieri: A Divina Comédia.
O Inferno é a primeira das três partes que compõem a obra que é considerado um dos maiores marcos da literatura universal. O poema é ao mesmo tempo uma alegoria espiritual, uma construção teológica e um retrato político-social da Florença medieval.
A narrativa inicia-se com Dante, na noite da Sexta-Feira Santa, perdido numa “selva escura” — metáfora para o pecado e a confusão moral. O poeta é guiado por Virgílio, símbolo da razão e da sabedoria clássica, numa descida pelos nove círculos do Inferno, onde as almas são punidas segundo a gravidade de seus pecados, num sistema de justiça divina chamado contrapasso (a pena reflete ou ironiza o crime cometido em vida).
A força literária do Inferno está na fusão entre imaginação vívida e rigor moral. As descrições das paisagens infernais e das torturas são ao mesmo tempo reais e simbólicas: do rio Aqueronte às chamas de Lúcifer, tudo é carregado de significados teológicos e filosóficos. O texto vai além da religiosidade, revelando também a indignação política de Dante, que não hesita em colocar inimigos, governantes corruptos e até papas nos círculos infernais.
A obra convida à reflexão sobre a responsabilidade individual, o papel da razão na condução moral e a necessidade de autoconhecimento para alcançar a salvação. Ainda assim, o Inferno mantém-se atual pela sua universalidade simbólica: todos, em alguma medida, reconhecem a jornada de sair do erro para buscar a luz.
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