quinta-feira, julho 31, 2025

Metamorfoses

Metamorfoses é uma das obras mais ambiciosas e influentes da literatura clássica latina. Escrita por Ovídio (43 a.C-17 d.C) e levado ao público ao redor do ano 8 d.C., a obra, composta em versos, reune mais de 250 mitos da tradição greco-romana, conectados pelo tema comum da transformação (metamorfose), seja ela física, emocional, simbólica ou espiritual.

Ovídio constrói uma narrativa fluida e engenhosa que começa com a criação do mundo e segue até a deificação de Júlio César, integrando mitos como o de Apolo e Dafne, Eco e Narciso, Píramo e Tisbe, Orfeu e Eurídice, entre muitos outros. Esses episódios, ainda que independentes, são interligados de forma fantástica.

Diferente de Homero e Virgílio, Ovídio não exalta a guerra ou os feitos heroicos como ponto central, mas foca nas experiências humanas — especialmente nas paixões, nos desejos e nas consequências dos atos dos deuses e dos mortais.

Entretanto, a riqueza da obra também impõe desafios: sua extensão e a densidade de referências mitológicas exigem do leitor certo familiaridade com a tradição clássica. No mínimo deve-se ter lido a Ilíada, a Odisseia e a Eneida para começar a apreciar a obra. Ainda assim, sua capacidade de emocionar, surpreender e provocar permanece intacta, mesmo passados mais de dois mil anos.

É uma obra que transcendeu seu tempo e o próprio autor, sabendo da obra magistral que estava escrevendo, finaliza o último livro com os seguintes versos:

“Eis que uma obra encerrei, que nem a ira de Jove,
fogo ou ferro destruirá, ou o ávido tempo.
Quando quiser, o dia, que nada senão este corpo pode clamar,
me encerre o incerto tempo da vida
pois com a parte melhor de mim, perene, por sobre
altos astros irei, e meu nome será indelével;
e onde a potência romana espalhar-se nas terras domadas
todo o povo me lerá, e, em tal fama, pra sempre
(se algo há de vero em presságios de vates) sigo vivendo.”

quinta-feira, julho 17, 2025

O Auto da Compadecida

Publicado em 1955, O Auto da Compadecida é uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira, combinando elementos do teatro popular nordestino com uma crítica social profunda, mas recheada de humor e religiosidade.

Ariano Suassuna (1927-2014), com sua prosa dramática viva e espirituosa, oferece ao leitor um retrato cômico, crítico e ao mesmo tempo compassivo do povo nordestino.

A peça gira em torno de João Grilo e Chicó, dois sertanejos pobres que vivem de espertezas para sobreviver num mundo injusto e desigual. João Grilo, o protagonista, é a figura clássica do malandro inteligente, que usa o discurso e a astúcia para driblar a fome, os poderosos e até a morte. Já Chicó é covarde e mentiroso, mas profundamente humano. A dupla funciona como representação do povo humilde, forçado a improvisar diante das adversidades.

A peça é uma crítica à hipocrisia social, à exploração dos pobres e ao uso distorcido da religião pelos poderosos. A linguagem é outro destaque: rica, inventiva, marcada por regionalismos e expressões populares que dão autenticidade aos personagens e ritmo ao texto. Suassuna consegue o feito de unir o popular ao sofisticado, o riso à reflexão, o teatro à poesia.

Mesmo para quem viu apenas o filme, temos aqui uma leitura indispensável para quem deseja compreender o Brasil profundo, com suas dores, fé e esperanças.

domingo, julho 13, 2025

Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz


Aproveitando que estava em Goiânia esse final de semana, hoje foi dia de asssistir a missa dominical em uma nova paróquia.

Participei da missa na Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz que foi inaugurada em maio de 1969.

A paróquia é simples, sendo parecida com a minha. Possui uns vitrais na parte superior e o altar com um painel com um desenho de Cristo.

A liturgia foi bem seguida e o padre fez uma boa homilía. Graças a Deus que essa comunidade tem uma boa paróquia para servi-la.



sábado, julho 12, 2025

Eneida


A Eneida, escrita por Virgílio (70 a.C.-19 a.C.) no século I a.C., é mais do que uma epopeia mitológica sobre a fundação de Roma: é um projeto literário profundamente político, que combina poesia, propaganda e filosofia. Composta em doze livros e inspirada nas epopeias homéricas, a obra narra a jornada do herói troiano Eneias, desde a queda de Troia até sua chegada ao Lácio, onde lançará as bases da futura Roma.

Virgílio, escrevendo a pedidos do imperador Augusto, dá à Eneida um tom solene e profético. Eneias não é apenas um guerreiro; ele é portador do destino inevitável traçado pelos deuses, que o impele a cumprir uma missão maior do que ele mesmo. A submissão de Eneias ao dever e sua renúncia a paixões pessoais (como no célebre abandono de Dido) ilustram o ideal da virtude romana de devoção à pátria, aos deuses e à família.

A leitura é difícil, pois o autor usa uma linguagem refinada, cheia de imagens poéticas (li acompanhado de um professor que explicava livro por livro no detalhe). A estrutura narrativa equilibra ação e introspecção, mesclando episódios heroicos com momentos de grande humanidade. A descida ao mundo dos mortos, no Livro VI é um dos pontos altos da obra, onde Eneias encontra seu pai e vislumbra o destino glorioso de Roma.

A influência homérica é visível: os seis primeiros livros ecoam a Odisseia (viagem e provações), e os seis últimos a Ilíada (guerras e batalhas).

A Eneida é uma obra profundamente marcada pelo contexto da ascensão de Augusto e do fim das guerras civis romanas. A epopeia legitima o novo regime ao apresentar Eneias como antepassado da família Julia, que é a família do imperador. Roma surge como a culminação de um plano divino universal — um império destinado a trazer paz e ordem ao mundo.

Essa dimensão política, no entanto, não elimina a tensão trágica da narrativa. Alguns apontam a ambiguidade do final, com Eneias matando Turno em um gesto de fúria que parece contradizer sua imagem de piedade. Prefiro ter uma outra leitura que é mais sombria: a fundação de Roma vem à custa de dor, sacrifício e destruição.

domingo, junho 29, 2025

Três Para Casar


Três para Casar, publicado em 1951, é uma reflexão profunda e espiritual sobre o matrimônio, escrito pelo arcebispo católico Fulton Sheen (1895-1979). O livro parte da premissa de que um casamento verdadeiramente feliz e sólido não é apenas uma união entre duas pessoas, mas entre três: o homem, a mulher e Deus. 

Sheen aborda o casamento não apenas como um contrato social ou um arranjo humano, mas como um sacramento, uma realidade espiritual que reflete o amor divino. Ele explora temas como o amor autêntico, o sentido do corpo e da sexualidade, a importância da castidade, a preparação para o matrimônio e os perigos do materialismo e do egoísmo nas relações. 

Sheen consegue unir filosofia, teologia e psicologia de maneira clara e acessível. Ele explica conceitos complexos sobre o amor e o matrimônio de forma que tanto leigos quanto estudiosos possam compreender. 

Um dos méritos da obra é apresentar o amor conjugal não como mera busca de satisfação pessoal, mas como entrega, sacrifício e compromisso mútuo, enraizado em Deus. 

O livro é provocativo e enriquecedor para quem busca compreender o casamento como algo além do aspecto legal ou afetivo, inserido em um plano espiritual maior. Em tempos de alta taxa de divórcios e relações líquidas, o livro oferece uma alternativa sólida, baseada em valores perenes como fidelidade, sacrifício e presença divina.

segunda-feira, junho 23, 2025

Paraíso Reconquistado

Depois de ler a obra prima, Paraíso Perdido, agora é a vez de sua continuação: Paraíso Reconquistado. Publicado em 1671, nesta obra John Milton (1608-1674) retoma os temas bíblicos da queda e redenção, mas agora sob a perspectiva do triunfo moral e espiritual de Cristo diante das tentações do diabo no deserto, conforme relatado nos Evangelhos, principalmente no de Lucas.

Ao contrário do estilo grandioso e dramático de Paraíso Perdido, Paraíso Reconquistado é mais contido, com um foco narrativo mais restrito. Em apenas quatro cantos, Milton narra a tentação de Cristo no deserto, quando, após jejuar por quarenta dias, Ele é confrontado por Satanás e rejeita todas as suas tentações, demonstrando sua superioridade espiritual e sua resistência inabalável.

Milton abandona aqui as épicas batalhas celestiais e quedas cósmicas para concentrar-se na luta interna e moral. A obra é admirável por sua profundidade filosófica e teológica, tratando do verdadeiro significado da vitória espiritual. O Cristo é um símbolo do autodomínio, da razão e da obediência à vontade divina, opondo-se ao orgulho e à sedução material apresentados por Satanás. 

Outro ponto de destaque é a habilidade de Milton em apresentar o Diabo não como um ser grotesco, mas como um mestre da retórica e da manipulação, o que torna as tentações intelectualmente desafiadoras. A vitória de Cristo, portanto, não é apenas sobre desejos carnais ou mundanos, mas sobre o engano e a distorção da verdade. 

Apesar de sua recepção mais modesta, Paraíso Reconquistado permanece como uma peça fundamental na compreensão da redenção cristã e do papel de Cristo como o "novo Adão" que restaura a possibilidade de salvação perdida no Éden.

sábado, junho 21, 2025

Prefácio ao Paraíso Perdido


No ensaio o Prefácio ao Paraíso Perdido, publicado em 1942, C. S. Lewis (1898-1963) oferece ao leitor muito mais do que uma introdução à obra-prima de John Milton. Trata-se de um estudo sobre poesia épica, mitologia, moralidade e crítica literária, com um rigor acadêmico que faz jus ao conhecimento do professor. A obra é um pouco difícil de ler, mas Lewis ilumina alguns aspectos essenciais do poema.

Lewis começa por situar O Paraíso Perdido dentro da tradição das epopeias clássicas, como as de Homero e Virgílio, e defende a necessidade de compreendê-lo à luz de suas convenções literárias e culturais. Ele discute temas como hierarquia, obediência, liberdade e a queda do homem.

Um dos pontos altos do livro é a defesa que Lewis faz da objetividade moral presente em Milton. Ele afirma que, para compreender O Paraíso Perdido, é necessário aceitar, ainda que temporariamente, a visão teocêntrica do autor, caso contrário, perde-se a força dramática e poética da narrativa.

Sua leitura é, ao mesmo tempo, conservadora e provocadora: conservadora no resgate de valores tradicionais da crítica e da teologia cristã; provocadora ao desafiar as interpretações modernistas de sua época, especialmente a visão romantizada de Satã como um rebelde heroico.

Ainda assim, o livro permanece um boa leitura para qualquer estudante ou amante da literatura clássica e da crítica literária. Lewis não apenas nos ajuda a compreender O Paraíso Perdido; ele nos ensina a ler com mais atenção, com mais profundidade e com mais reverência.

sexta-feira, junho 13, 2025

Os Noivos


Publicado em 1842, Os Noivos é amplamente considerado o maior romance da literatura italiana. Alessandro Manzoni (1785-1873) constrói uma poderosa fusão entre o drama pessoal e o retrato social, ao mesmo tempo em que eleva a prosa italiana a um novo patamar de clareza e unidade linguística.

A trama se passa na Lombardia do século XVII, durante o domínio espanhol, e acompanha a história de Renzo e Lucia, dois camponeses humildes que lutam para se casar em meio a obstáculos sociais, políticos e religiosos. O vilão Don Rodrigo representa a corrupção dos poderosos, enquanto personagens como o Frei Cristóvão e o Cardeal Borromeu encarnam a força moral da fé cristã e da caridade.

Do ponto de vista literário, Os Noivos se destaca por sua estrutura equilibrada e pelo uso sutil da ironia. Manzoni intercala a narrativa com digressões históricas — como a peste de Milão ou a carestia — sem perder de vista o fio emocional da história principal. Essa fusão entre o épico coletivo e o drama íntimo é uma das grandes virtudes do romance.

Manzoni também promove uma crítica social poderosa: condena o autoritarismo, a ignorância promovida pelas elites e a passividade das massas. Ao mesmo tempo, aponta para a redenção possível através da fé, do arrependimento e da ação moral individual.

Apesar de sua densidade histórica e religiosa, o romance mantém um ritmo envolvente, com momentos de tensão, ternura e reflexão profunda. É uma leitura para quem busca compreender como o romance moderno europeu nasceu da fusão entre o realismo histórico e a sensibilidade moral.

segunda-feira, junho 09, 2025

Post Número 900!!


Foram quase 2 anos e cheguei a 900 postagens! Não foi o menor prazo, mas bem melhor do que alguns anos atrás.

Desde dezembro/2006, esses foram os tempos que levei para chegar em cada marca:

Para o 100º post levei 1 ano e 9 meses
Para o 200º post levei 1 ano e 7 meses
Para o 300º post levei 2 anos e 8 meses
Para o 400º post levei 3 anos e 3 meses
Para o 500º post levei 1 ano e 11 meses
Para o 600º post levei 2 anos e 8 meses
Para o 700º post levei 1 anos e 6 meses
Para o 800º post levei 1 anos e 3 meses
Para o 900º post levei 1 anos e 10 meses

As publicações foram de Agosto/2023 a Junho/2025. Na época que escrevi o 800º post eu estimei que levaria em torno de 2 anos para chegar nesse marco. Errei por bem pouco...

Imagino que devo levar o mesmo tempo para escrever o 1.000º post. Veremos daqui 2 anos!

domingo, junho 08, 2025

Santuário São João Bosco


Hoje eu precisei assistir a missa um pouco mais cedo do que o horário que a minha paróquia celebra a missa e com isso procurei uma paróquia que celebrasse a missa às 18h (bendita Igreja Católica onde temos a mesma celebração em todas as paróquias).

Usando a pesquisa de horários de missas (https://arqbrasilia.com.br/horarios-de-missas/) disponível no site da Arquidiocese de Brasília verifiquei que o Santuário São João Bosco na Asa Sul teria missa nesse horário. Como sempre tive interesse em visitar essa paróquia decidi ir assistir a missa de hoje lá.

A paróquia é bem imponente, mas, sinceramente, ela não é bonita. É um grande caixote com várias pilastras. Ela tem um pórtico de entrada feito de bronze que traz um diferencial para o prédio. 

Internamente ela é bem imponente com um enorme lustre no centro e os vitrais nas paredes são bem bonitos.

A paróquia é administrada pelos Salesianos e foi inaugurada em 1970.