Metamorfoses é uma das obras mais ambiciosas e influentes da literatura clássica latina. Escrita por Ovídio (43 a.C-17 d.C) e levado ao público ao redor do ano 8 d.C., a obra, composta em versos, reune mais de 250 mitos da tradição greco-romana, conectados pelo tema comum da transformação (metamorfose), seja ela física, emocional, simbólica ou espiritual.
Ovídio constrói uma narrativa fluida e engenhosa que começa com a criação do mundo e segue até a deificação de Júlio César, integrando mitos como o de Apolo e Dafne, Eco e Narciso, Píramo e Tisbe, Orfeu e Eurídice, entre muitos outros. Esses episódios, ainda que independentes, são interligados de forma fantástica.
Diferente de Homero e Virgílio, Ovídio não exalta a guerra ou os feitos heroicos como ponto central, mas foca nas experiências humanas — especialmente nas paixões, nos desejos e nas consequências dos atos dos deuses e dos mortais.
Entretanto, a riqueza da obra também impõe desafios: sua extensão e a densidade de referências mitológicas exigem do leitor certo familiaridade com a tradição clássica. No mínimo deve-se ter lido a Ilíada, a Odisseia e a Eneida para começar a apreciar a obra. Ainda assim, sua capacidade de emocionar, surpreender e provocar permanece intacta, mesmo passados mais de dois mil anos.
É uma obra que transcendeu seu tempo e o próprio autor, sabendo da obra magistral que estava escrevendo, finaliza o último livro com os seguintes versos:
“Eis que uma obra encerrei, que nem a ira de Jove,fogo ou ferro destruirá, ou o ávido tempo.Quando quiser, o dia, que nada senão este corpo pode clamar,me encerre o incerto tempo da vidapois com a parte melhor de mim, perene, por sobrealtos astros irei, e meu nome será indelével;e onde a potência romana espalhar-se nas terras domadastodo o povo me lerá, e, em tal fama, pra sempre(se algo há de vero em presságios de vates) sigo vivendo.”