sábado, junho 21, 2025

Prefácio ao Paraíso Perdido


No ensaio o Prefácio ao Paraíso Perdido, publicado em 1942, C. S. Lewis (1898-1963) oferece ao leitor muito mais do que uma introdução à obra-prima de John Milton. Trata-se de um estudo sobre poesia épica, mitologia, moralidade e crítica literária, com um rigor acadêmico que faz jus ao conhecimento do professor. A obra é um pouco difícil de ler, mas Lewis ilumina alguns aspectos essenciais do poema.

Lewis começa por situar O Paraíso Perdido dentro da tradição das epopeias clássicas, como as de Homero e Virgílio, e defende a necessidade de compreendê-lo à luz de suas convenções literárias e culturais. Ele discute temas como hierarquia, obediência, liberdade e a queda do homem.

Um dos pontos altos do livro é a defesa que Lewis faz da objetividade moral presente em Milton. Ele afirma que, para compreender O Paraíso Perdido, é necessário aceitar, ainda que temporariamente, a visão teocêntrica do autor, caso contrário, perde-se a força dramática e poética da narrativa.

Sua leitura é, ao mesmo tempo, conservadora e provocadora: conservadora no resgate de valores tradicionais da crítica e da teologia cristã; provocadora ao desafiar as interpretações modernistas de sua época, especialmente a visão romantizada de Satã como um rebelde heroico.

Ainda assim, o livro permanece um boa leitura para qualquer estudante ou amante da literatura clássica e da crítica literária. Lewis não apenas nos ajuda a compreender O Paraíso Perdido; ele nos ensina a ler com mais atenção, com mais profundidade e com mais reverência.

sexta-feira, junho 13, 2025

Os Noivos


Publicado em 1842, Os Noivos é amplamente considerado o maior romance da literatura italiana. Alessandro Manzoni (1785-1873) constrói uma poderosa fusão entre o drama pessoal e o retrato social, ao mesmo tempo em que eleva a prosa italiana a um novo patamar de clareza e unidade linguística.

A trama se passa na Lombardia do século XVII, durante o domínio espanhol, e acompanha a história de Renzo e Lucia, dois camponeses humildes que lutam para se casar em meio a obstáculos sociais, políticos e religiosos. O vilão Don Rodrigo representa a corrupção dos poderosos, enquanto personagens como o Frei Cristóvão e o Cardeal Borromeu encarnam a força moral da fé cristã e da caridade.

Do ponto de vista literário, Os Noivos se destaca por sua estrutura equilibrada e pelo uso sutil da ironia. Manzoni intercala a narrativa com digressões históricas — como a peste de Milão ou a carestia — sem perder de vista o fio emocional da história principal. Essa fusão entre o épico coletivo e o drama íntimo é uma das grandes virtudes do romance.

Manzoni também promove uma crítica social poderosa: condena o autoritarismo, a ignorância promovida pelas elites e a passividade das massas. Ao mesmo tempo, aponta para a redenção possível através da fé, do arrependimento e da ação moral individual.

Apesar de sua densidade histórica e religiosa, o romance mantém um ritmo envolvente, com momentos de tensão, ternura e reflexão profunda. É uma leitura para quem busca compreender como o romance moderno europeu nasceu da fusão entre o realismo histórico e a sensibilidade moral.

domingo, junho 08, 2025

Santuário São João Bosco


Hoje eu precisei assistir a missa um pouco mais cedo do que o horário que a minha paróquia celebra a missa e com isso procurei uma paróquia que celebrasse a missa às 18h (bendita Igreja Católica onde temos a mesma celebração em todas as paróquias).

Usando a pesquisa de horários de missas (https://arqbrasilia.com.br/horarios-de-missas/) disponível no site da Arquidiocese de Brasília verifiquei que o Santuário São João Bosco na Asa Sul teria missa nesse horário. Como sempre tive interesse em visitar essa paróquia decidi ir assistir a missa de hoje lá.

A paróquia é bem imponente, mas, sinceramente, ela não é bonita. É um grande caixote com várias pilastras. Ela tem um pórtico de entrada feito de bronze que traz um diferencial para o prédio. 

Internamente ela é bem imponente com um enorme lustre no centro e os vitrais nas paredes são bem bonitos.

A paróquia é administrada pelos Salesianos e foi inaugurada em 1970.



domingo, maio 25, 2025

Epopeia de Gilgámesh


Até 1850 os clássicos de Homero (Ilíada e Odisseia) eram considerados os escritos mais antigos que chegaram até nós, os quais foram escritos ao redor do século VIII a.C.

Entretanto, com as descobertas de fragmentos de tábuas no Iraque, fomos agraciados em conhecer A Epopeia de Gilgamesh. Portanto, esses escritos agora são considerados a obra literária mais antiga da humanidade, com registros que remontam a cerca de 2100 a.C., na antiga Mesopotâmia.

O texto, escrito em tábuas de argila usando a escrita cuneiforme, narra as aventuras do rei Gilgamesh de Uruk e aborda temas fundamentais da condição humana, como a amizade, a busca pela imortalidade, o medo da morte e a aceitação dos limites humanos.

A narrativa se destaca pela complexidade psicológica de seus personagens. Gilgamesh começa como um rei tirano e opressor, mas sua amizade com Enkidu, criado pelos deuses para freá-lo, transforma profundamente sua visão de mundo. A morte de Enkidu é o catalisador da grande busca de Gilgamesh por respostas sobre a vida e a morte, levando-o a empreender uma jornada mítica em busca da imortalidade.

Um dos aspectos mais notáveis da epopeia é sua reflexão filosófica sobre a finitude humana. A obra não oferece uma solução mágica para a angústia da morte; ao contrário, sugere que a imortalidade reside na memória das realizações humanas e na perpetuação da civilização.

A Epopeia de Gilgamesh é uma leitura essencial não apenas pelo seu valor histórico, mas também pela sua profunda contribuição à literatura e à filosofia. É uma obra que convida à reflexão sobre o sentido da vida e o legado que deixamos.

quinta-feira, maio 22, 2025

Bucólicas

 


As Bucólicas (ou Éclogas), escritas por Virgílio (70 a.C.-19 a.C.) por volta de 42 a.C., representam uma das obras mais importantes da poesia pastoral da Antiguidade. Compostas por dez poemas curtos, a obra mistura a idealização da vida campestre com profundas reflexões políticas e existenciais.

Virgílio não se limita a descrever a beleza idealizada da natureza e do cotidiano dos pastores, mas aborda também as inquietações e angústias de seu tempo, como as consequências das guerras civis romanas, a perda de terras por parte dos camponeses e a busca por um refúgio espiritual frente ao caos político.

Um dos aspectos mais notáveis da obra é o equilíbrio entre forma e conteúdo. A linguagem é refinada (tanto é que nao dá para ler sem notas explicarivas), repleta de imagens bucólicas, mitológicas e alusões eruditas, enquanto os temas são universais: o amor não correspondido, a amizade, a saudade, a perda e a esperança. A quarta égloga, em especial, é famosa por anunciar o nascimento de uma criança que traria uma nova era de paz e prosperidade, um motivo que, séculos depois, seria interpretado pelos cristãos como uma prefiguração do nascimento de Cristo.

As Bucólicas estabeleceram um modelo que influenciou profundamente a literatura europeia, sendo uma obra que ultrapassa seu contexto histórico e permanece atual pela beleza estética, pela densidade simbólica e pela delicadeza com que trata temas universais.

sexta-feira, maio 16, 2025

Odisseia


A Odisseia é uma das obras fundadoras da literatura ocidental e um marco da poesia épica. Atribuída a Homero (séc VIII a.C.), essa narrativa segue o retorno do herói Odisseu à sua terra natal, Ítaca, após a guerra de Troia. Mais do que uma simples aventura, o poema mergulha em temas universais como a astúcia, a fidelidade, o sofrimento humano e a superação.

A obra mescla mitologia, simbolismo e realidade em um enredo que, embora fantástico, dialoga profundamente com a condição humana. Odisseu enfrenta monstros (como Cila e Caríbdis), tentações (Circe, Calipso), e provações interiores, mostrando não apenas força física, mas inteligência e estratégia.

Além de Odisseu temos personagens bem interessantes como Penélope e Telêmaco que ganham destaque próprio, mostrando que a Odisseia é também uma narrativa familiar e política, e não apenas pessoal.

A figura de Odisseu pode ser interpretada como ambígua: herói por excelência, mas também ardiloso e manipulador. Essa complexidade o torna mais humano e menos idealizado do que outros heróis da época.

A Odisseia é mais do que um épico de retorno; é uma meditação sobre o tempo, o lar, o destino e a identidade. Sua influência se estende por séculos, alimentando obras literárias, filosóficas e artísticas do Ocidente até os dias de hoje.

quarta-feira, maio 07, 2025

Livro de Ouro da Mitologia


Se você ama mitologia, precisa conhecer esse clássico! 

Publicado originalmente em 1855 como The Age of Fable, de Thomas Bulfinch (1796-1867), é uma das obras mais influentes na divulgação da mitologia clássica no mundo ocidental. Bulfinch reúne e reconta mitos greco-romanos, nórdicos e célticos de maneira acessível, pedagógica e literariamente envolvente, tornando-se uma ponte entre o conhecimento erudito da Antiguidade e o público leitor moderno.

Uma das principais qualidades da obra é a clareza com que Bulfinch apresenta os mitos. Ele reconta as histórias com uma linguagem simples, porém elegante, e com contextualizações históricas e literárias que ajudam o leitor a compreender os significados simbólicos, culturais e morais dos mitos. Além disso, interliga os mitos às referências da literatura inglesa e europeia, o que reforça sua função educativa.

No entanto, a obra carrega as marcas de seu tempo. Bulfinch reinterpreta os mitos sob uma ótica moralizante suavizando elementos eróticos e violentos presentes nos relatos originais.

A obra tem uma importância histórica incontestável. Tornou-se um guia de referência para gerações de leitores e estudantes. Seu estilo narrativo influenciou obras posteriores e serviu como uma introdução ao universo mitológico para leitores do século XIX até hoje.

É uma leitura obrigatória para quem quer entender como os mitos moldaram a cultura ocidental. Ideal para iniciantes e ótimo ponto de partida para quem quer se aprofundar depois.

sexta-feira, maio 02, 2025

Muito Barulho por Nada

 


Muito Barulho por Nada é uma das comédias mais conhecidas de William Shakespeare (1564-1616), escrita por volta de 1598–1599. A peça combina elementos de romance, intriga, mal-entendidos e jogos de palavras, criando uma narrativa envolvente e espirituosa. Ambientada em Messina, na Sicília, a história gira em torno de dois casais: o apaixonado e jovem Cláudio e Hero, e os espirituosos e cínicos Benedito e Beatriz.

O título já oferece uma pista sobre a natureza da obra: um drama construído sobre equívocos, rumores e mal-entendidos — ou seja, muito barulho por nada.

O ponto alto da peça está nas trocas verbais entre Benedito e Beatriz. O humor sarcástico e o jogo de palavras entre os dois revelam não só inteligência aguda, mas também sentimentos profundos mascarados por ironia.

Apesar de ser uma comédia, Shakespeare insere críticas sutis aos papéis de gênero e às expectativas sociais. Hero é envergonhada publicamente por um crime que não cometeu, o que revela a fragilidade da honra feminina diante do julgamento masculino.

A peça tem uma estrutura clássica de comédia shakespeariana, com confusões amorosas, vilões (como Dom João) e uma resolução harmoniosa. No entanto, a leveza da forma contrasta com temas sérios como o orgulho, a honra e a lealdade.

Muito Barulho por Nada é uma comédia cheia de charme, ironia e reflexões sobre o amor, a linguagem e a natureza humana.

quinta-feira, maio 01, 2025

Frankenstein

 


Publicado em 1818, Frankenstein é uma das obras fundadoras da ficção científica, mas vai muito além do gênero ao explorar temas filosóficos e existenciais profundos. Mary Shelley (1797-1851), com apenas 19 anos quando escreveu o romance, constrói uma narrativa complexa e profundamente humana, que discute os limites do conhecimento, a ética científica, e a alienação.

A trama gira em torno de Victor Frankenstein, um jovem cientista obcecado por descobrir os segredos da vida. Em seu isolamento e ambição desmedida, ele cria uma criatura a partir de partes de cadáveres e a traz à vida. O monstro, no entanto, é rejeitado desde o início – tanto pelo seu criador quanto pela sociedade – e, ao tentar entender o mundo e buscar aceitação, é confrontado com o preconceito, o abandono e a violência.

O grande mérito do livro está na ambiguidade moral: não há vilões ou heróis puros. O monstro, frequentemente visto como símbolo da monstruosidade, revela-se uma figura trágica, dotada de sentimentos e consciência. Já Victor, que deveria representar o progresso e a razão, se mostra irresponsável, cego por sua vaidade intelectual, incapaz de lidar com as consequências de seus atos.

Shelley também antecipa questões éticas que continuam relevantes: até onde a ciência deve ir? O que significa ser humano? Qual é o papel da responsabilidade na criação? Essas perguntas dão à obra uma atualidade surpreendente.

Frankenstein é uma obra-prima que transcende sua época e seu gênero. Mary Shelley oferece não apenas um suspense envolvente, mas um retrato sombrio da condição humana, da solidão e do desejo de pertencimento. É uma leitura essencial para quem busca entender os dilemas morais e existenciais do ser humano diante do poder de criação.

segunda-feira, abril 28, 2025

Paraíso Perdido

 


Que livro meus amigos! Entrou no rol dos melhores livros que já li.

Publicado em 1667, Paraíso Perdido é uma das mais ambiciosas epopeias já escritas na língua inglesa. John Milton (1608-1674), em versos brancos (sem rima) e com estrutura épica, reconta a narrativa bíblica da queda do homem – a desobediência de Adão e Eva e sua expulsão do Éden – com uma profundidade filosófica e estilística impressionante.

A obra é monumental tanto pela sua extensão quanto pelo escopo teológico, político e humano. Milton, profundamente influenciado por sua formação puritana e pelos conflitos políticos de seu tempo, articula não apenas um relato religioso, mas um debate sobre livre-arbítrio, obediência, autoridade e redenção.

Um dos aspectos mais fascinantes da obra é a complexidade da figura de Satanás, que abre o poema com sua queda do Céu e logo se destaca por sua retórica poderosa, inteligência astuta e senso de autonomia.

A linguagem de Milton é elevada, rica em imagens, referências clássicas e bíblicas, o que dificulta a leitura para o leitor moderno, mas como li uma edição cheia de notas, acabou facilitando a compreensão do texto. A habilidade do autor em criar imagens vívidas do Inferno, do Céu e do Éden, assim como de sondar os dilemas morais da humanidade, é notável.

O livro exige preparo e paciência: sua estrutura não é linear e a carga teológica é bem densa.  É um livro para se ler várias vezes ao longo da vida, pois o poema revela-se uma meditação profunda sobre o que significa ser humano, errar, buscar sentido e, sobretudo, redimir-se.