Ariano Suassuna (1927-2014), com sua prosa dramática viva e espirituosa, oferece ao leitor um retrato cômico, crítico e ao mesmo tempo compassivo do povo nordestino.
A peça gira em torno de João Grilo e Chicó, dois sertanejos pobres que vivem de espertezas para sobreviver num mundo injusto e desigual. João Grilo, o protagonista, é a figura clássica do malandro inteligente, que usa o discurso e a astúcia para driblar a fome, os poderosos e até a morte. Já Chicó é covarde e mentiroso, mas profundamente humano. A dupla funciona como representação do povo humilde, forçado a improvisar diante das adversidades.
A peça é uma crítica à hipocrisia social, à exploração dos pobres e ao uso distorcido da religião pelos poderosos. A linguagem é outro destaque: rica, inventiva, marcada por regionalismos e expressões populares que dão autenticidade aos personagens e ritmo ao texto. Suassuna consegue o feito de unir o popular ao sofisticado, o riso à reflexão, o teatro à poesia.
Mesmo para quem viu apenas o filme, temos aqui uma leitura indispensável para quem deseja compreender o Brasil profundo, com suas dores, fé e esperanças.
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