segunda-feira, junho 23, 2025

Paraíso Reconquistado

Depois de ler a obra prima, Paraíso Perdido, agora é a vez de sua continuação: Paraíso Reconquistado. Publicado em 1671, nesta obra John Milton (1608-1674) retoma os temas bíblicos da queda e redenção, mas agora sob a perspectiva do triunfo moral e espiritual de Cristo diante das tentações do diabo no deserto, conforme relatado nos Evangelhos, principalmente no de Lucas.

Ao contrário do estilo grandioso e dramático de Paraíso Perdido, Paraíso Reconquistado é mais contido, com um foco narrativo mais restrito. Em apenas quatro cantos, Milton narra a tentação de Cristo no deserto, quando, após jejuar por quarenta dias, Ele é confrontado por Satanás e rejeita todas as suas tentações, demonstrando sua superioridade espiritual e sua resistência inabalável.

Milton abandona aqui as épicas batalhas celestiais e quedas cósmicas para concentrar-se na luta interna e moral. A obra é admirável por sua profundidade filosófica e teológica, tratando do verdadeiro significado da vitória espiritual. O Cristo é um símbolo do autodomínio, da razão e da obediência à vontade divina, opondo-se ao orgulho e à sedução material apresentados por Satanás. 

Outro ponto de destaque é a habilidade de Milton em apresentar o Diabo não como um ser grotesco, mas como um mestre da retórica e da manipulação, o que torna as tentações intelectualmente desafiadoras. A vitória de Cristo, portanto, não é apenas sobre desejos carnais ou mundanos, mas sobre o engano e a distorção da verdade. 

Apesar de sua recepção mais modesta, Paraíso Reconquistado permanece como uma peça fundamental na compreensão da redenção cristã e do papel de Cristo como o "novo Adão" que restaura a possibilidade de salvação perdida no Éden.

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