terça-feira, outubro 18, 2022

O que há de Errado com o Mundo


Mais um livro do grande escritor inglês G. K. Chesterton (1874-1936) finalizado!

Dessa vez li um livro de ensaios, pois o primeiro livro que li dele foi um de contos do Padre Brown.

O que há de Errado com o Mundo foi publicado em 1910 e nele o autor faz duras críticas a conduta do homem de sua época, ao crescente movimento do feminismo que estava ocorrendo, a educação infantil, além de outros temas menores.

A leitura não é fácil, pois ele cita muitos nomes e personagens de sua época (as notas de rodapé ajudam bastante a entender essas citações), além de ser um livro ditado, ou seja, ele ia ditando enquanto sua secretária ia escrevendo. Portanto, o livro tem raciocínios bem longos que demoram a se fechar.

Mesmo assim, o livro vale muito a pena e o Chesterton é de uma lucidez tamanha que muita das mazelas que nós vivemos hoje, estavam iniciando na Inglaterra no início do séc. XX e ele já avisava que ia dar merda!

Vejam a maneira que ele trava que deve-se buscar nos estudos e não na praticidade a resolução dos problemas atuais da sociedade.

Em nossa época, despontou uma fantasia singularíssima: a de que, quando as coisas vão muito mal, precisamos de um homem prático. Seria muito mais verdadeiro dizer que, quando as coisas vão muito mal, precisamos de um teórico.

Um homem prático é alguém acostumado à mera prática cotidiana, à maneira como as coisas funcionam normalmente. Quando as coisas não estão funcionando, é preciso do pensador, do homem com uma doutrina que explica por que elas não estão funcionando. Enquanto Roma arde em chamas, é errado tocar violino; mas é correto estudar teoria hidráulica.

A síntese de ele faz ao explicar os motivos que queremos esconder o passado e negligenciar os conhecimentos constuídos por nossos antepassados.

Houve tantas fés flamejantes, que não as podemos suportar; houve heroísmos tão severos, que não somos capazes de imitá-los; empregaram-se esforços tão grandes na construção de edifícios monumentais ou na busca da glória militar, que hoje nos parecem a um tempo sublimes e patéticos. O futuro é um refúgio onde nos escondemos da competição feroz de nossos antepassados. São as gerações passadas, não as futuras, que vêm bater à nossa porta.

A maneira que ele trata do papel da mulher na sociedade e na família é um tapa na cara de qualquer cidadão do atual séc. XXI. Olha a profundidade da reflexão que ele faz ao comparar a grandeza do trabalho da mãe de educar o seu filho comparado com o mero trabalho assalariado que as mulheres buscaram e buscam até hoje.

Como é que ensinar a regra de três para as crianças dos outros pode ser uma grande e ampla profissão e ensinar suas próprias crianças a respeito do universo, uma profissão restrita? Como é que ser o mesmo para todos pode ser grandioso, e ser tudo para alguém, algo limitado? Não pode ser. A função de uma mulher é trabalhosa, mas porque tem uma amplitude colossal e não porque tenha um alcance diminuto.

E para finalizar um simples pensamento do que é o casamento:

Conheci muitos casamentos felizes, mas nunca um compatível. O objetivo do casamento é lutar e sobreviver ao instante em que a incompatibilidade mostra-se incontestável. Pois um homem e uma mulher, como tais, são incompatíveis.

Nenhum comentário: