O conto A hora e vez de Augusto Matraga, publicado originalmente em Sagarana (1946), condensa, em poucas páginas, a violência, a redenção, a religiosidade e a tensão entre o destino e a liberdade humana.
A narrativa acompanha Augusto Esteves, conhecido como Nhô Augusto, fazendeiro prepotente, mulherengo e violento que, após ser traído e espancado por inimigos, é dado como morto. Salvo por um casal de negros pobres, ele inicia uma trajetória de isolamento, penitência e conversão religiosa. Ao longo dos anos, vivendo em penitência e disciplina, tenta se preparar para “sua hora e vez” — o momento de provar seu valor espiritual.
Guimarães Rosa (1908-1967) utiliza a linguagem sertaneja, rica em oralidade, arcaísmos e expressões regionais, para dar autenticidade e, ao mesmo tempo, transcendência à narrativa. O sertão aqui é mais do que cenário: é espaço simbólico onde se dão as lutas da alma humana.
O aspecto mais poderoso da obra é a construção da figura de Nhô Augusto como um anti-herói que se torna mártir. Se no início é um homem bruto, entregue à violência e aos vícios, sua queda o leva a um processo de purificação interior que culmina em um gesto de sacrifício.
A hora e vez de Augusto Matraga é mais que um conto regionalista: é uma narrativa sobre a possibilidade de transformação e transcendência.
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