quarta-feira, agosto 28, 2024

Eugenia e Outros Males


Diferente do último livro que li do Chesterton (1874-1936) o Eugenia e Outros Males (1922) foi um pouco mais fácil de entender, mas ainda assim é um desafio captar tudo que o autor quer dizer.

Trata-se de um livro que lida diretamente com o problema que é apresentado em seu título, e que era a "praga científica" da época. Em nome da ciência, uma tirania se erguia na Europa e Chesterton foi uma das nobres vozes que abertamente enfrentou essa moda intelectual em nome das coisas antigas e perenes.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, o autor busca expor o que é a eugenia e quais são os problemas em tal teoria. Na segunda, tenta apontar para as raízes do problema, o que o ensejou de fato.

O autor começa definindo a eugenia como o controle da parte de uma minoria sobre o casamento, o sexo e a procriação da maioria. É claro que muitos douram a pílula e a apresentam como uma forma de se preocupar com a posteridade e o caminho para um futuro mais próspero e feliz. Mas, no final das contas, trata-se de tal tipo de controle. O suposto fundamento moral está fundamentado na ideia de que se deve considerar o bebê inexistente antes do par presente. Com isso, converte-se o patife de outrora em herói, pois qualquer 'defeito' encontrado no noivo ou noiva, ou mesmo no cônjuge, será justificativa plausível e mais do que justa para abandoná-lo.

Para o autor, a eugenia não era mais uma ameaça futura, mas uma ameaça presente, pois seu veneno já corria pelas veias das leis. Ela havia se iniciado por meio das leis dos débeis-mentais, que deveriam ser trancafiados e impedidos de procriarem-se. O problema é que não havia uma definição precisa e técnica sobre o que era uma tal pessoa louca. Na verdade, havia uma definição tão genérica e abrangente que poderia condenar qualquer um que os médicos quisessem. Dizer que se tratava de alguém que não agisse de forma racional em momentos de pressão, ou que não fosse prudente, deixa, na melhor das hipóteses, quase todo mundo sob suspeita. E para piorar, quando se questionava quem é que deveria exercer a autoridade para implantar as medidas eugênicas, encontrava-se um grande problema, pois os médicos não concordavam entre si na definição de quem era o louco, de tal poder dado aos médicos criaria uma condição de inevitável conflito de poder. Toda essa instabilidade constitui um estado de anarquia, a qual Chesterton define como uma normalização da exceção, como um rompante incessante e incessável, em uma incapacidade de se retomar o estado de normalidade após se exercer uma medida extrema. E esse era o destino da legislação eugênica, que tenderia cada vez mais à viabilização da tirania e à subversão da normalidade civil.

Chesterton também dirige suas críticas diretamente à própria teoria, demonstrando que a hereditariedade, embora inegável, estava eivada de mistérios, pois não é fácil precisar exatamente o que foi herdado do pai ou da mãe, e em que medida isso se deu, ou mesmo se veio de uma ancestralidade ainda maior - o autor já admitia as noções de genes recessivos.

Para finalizar a primeira parte, Chesterton observa que essa tirania dos eugenistas era pior do que as antigas tiranias, pois sua proposta era a de tolher liberdades fundamentais em nome de uma experiência, para verificarem suas hipóteses, e não por alguma convicção. Isso faz com que a nova tirania e perseguição seja feita não para se ensinar algo à força, ou por se acreditar em algo, mas para tentar aprender algo com o 'sacrifício imposto' do outro. Com efeito, a ciência moderna havia se tornado a nova religião, e usava o "poder temporal" para se fazer valer. Entretanto, esta era uma 'igreja estabelecida na dúvida', e não em convicções - o que, por si só, tornava o experimento um abuso colossal.

Na segunda parte, Chesterton começa com um interessantíssimo tratamento da condição progressista que vê os acontecimentos pregressos, primeiramente como males necessários e depois como bens providenciais. Em suma, ha uma atitude típica de impenitência, onde as pessoas se recusam a admitir que erraram, em que assumem como inalterável o processo que se deu no passado e culminou no presente. Para tal, precisam até mesmo falsificar a história ou obliterar as partes que incomodam. E a parte que incomoda a ser destacada pelo autor é a questão da origem dos pobres.

É nesse contexto que surge a proposta eugênica. Afinal, a exploração dos pobres ao máximo acabou por torná-los tão miseráveis que se tornaram maus empregados, entregues à bebida e à promiscuidade, que são os prazeres acessíveis à sua condição deplorável. Assim, com muitos filhos para criarem e sem condições de o fazer, acabam debilitando sua própria saúde e, sendo isso uma condição generalizada, prejudicam a própria produção. Os ricos e empresários, então, pensaram em uma forma de erradicar a pobreza pela eliminação do pobre, e isso de forma velada: a eugenia.

Os últimos capítulos da segunda parte são destinados a analisar as forças que ainda podem se contrapor aos avanços totalitários da eugenia.

Em seguida, o autor fala sobre o socialismo. Ele se opõe ao socialismo por conta de sua concepção a respeito da propriedade privada, que lhe parece questão de honra - embora, temos de nos lembrar que o autor pensa nisso em termos distributivistas. Nosso filósofo inglês observa que há uma disputa entre liberais e socialistas no que diz respeito à importância da liberdade e da igualdade. Entretanto, o atual estado promoveu toda a privação das liberdades que há no socialismo sem promover qualquer igualdade prometida. Portanto, nem mesmo o socialismo pode surgir como rival da tirania eugenista.

Por último, Chesterton fala sobre a sacralidade da propriedade doméstica, que é encarada com afetuosidade como um deus do lar entre os antigos. Chesterton nota que o ideal de família e do trabalho para sustentá-la estão sendo altamente aviltados pela situação do trabalhador moderno, que não tem nenhuma segurança no seu ofício, sendo despedido como um ninguém, ao mesmo tempo que é vigiado de perto dentro de sua própria casa pelos tentáculos totalitarista do Estado. Priva-se o indivíduo, pois, de sua propriedade e de sua liberdade.

sexta-feira, agosto 23, 2024

O Livro do Êxodo: Cadernos de estudo bíblico


Foi tão prazerosa a leitura do 1º livro da coleção de Estudos Bíblicos do escritor Scott Hahn (1957-) que rapidamente parti para o 2º livro e terminei ele em 4 dias!

Nesse volume temos o livro do Êxodo que narra a história de Moisés desde o seu nascimento até a entrega das tábuas dos 10 mandamentos.

Novamente o livro é excelente com vários comentários que elucidam bastante o que Deus quis fazer com o seu povo e o contexto que o Egito vivia à época dando bastante certeza que Moisés existiu e que os fatos apresentados pela Sagrada Escritura são verdadeiros não só ponto teológico, mas também histórico.

segunda-feira, agosto 19, 2024

O Desconcerto do Mundo


Mais um livro lido do genial Gustavo Corção (1896-1978) e dessa vez trata-se de um conjunto de três ensaios que tratam da mesma temática.

No 1º, que dá à obra o título colhido na Lírica de Camões, o autor procura desvendar em que consiste o “desconcerto” de que tanto se queixa o poeta, e tenta fazer um paralelo entre a experiência poética e a mística, valendo-se principalmente da poesia de Camões.

No 2º ensaio vêm diversos estudos de alguns aspectos das obras de Machado de Assis e Eça de Queirós, merecendo especial atenção a interpretação dada para o pessimismo e ceticismo de Machado.

No 3º, são os pintores que comparecem com seus problemas; o autor apresenta a sucessão de escolas, correntes, buscas, tentativas, como uma sucessão de manifestações que se completam e como uma Exposição Universal que se prepara para o dia do Juízo Final.

Debaixo da diversidade de assuntos nós encontramos a unidade do problema central, que é a pungente interrogação que todos os artistas de todos os tempos põem em suas obras, cada um com seus recursos, resumido na sentença: “De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?”.

domingo, agosto 18, 2024

Paróquia Santo Antônio


Dia de conhecer mais uma paróquia e dessa vez foi em Maragogi/AL.

Aproveitando as férias que estamos passando no Resort de Salinas, viemos assistir a missa dominical na Igreja Matriz da cidade.

Pelo que pude pesquisar a Paróquia é antiga, sendo construída em meados de 1875, quando a cidade ainda era uma vila chamada Isabel (em homenagem a nossa Princesa).


O presbitério é bem simples, mas bem ornado remetendo as igrejas tradicionais do séc XIX.

Tem como santo padroeiro o nosso famoso Santo Antônio (sendo também padroeiro da cidade), inclusiva a praça de frente a paróquia leva o seu nome com a sua estátua.



terça-feira, agosto 13, 2024

O Livro do Gênesis: Cadernos de estudo bíblico


Já tem um tempo que tento me dedicar a leitura sistemática da Bíblia, porém sem alcançar o resultado que almejo que é tentar entender a luz da doutrina católica, sem cair no erro protestante de eu mesmo tentar entender sozinho o que a palavra de Deus quer dizer para nós.

Creio que com essa séria de Cadernos de Estudos Bíblicos escrito pelo Scott Hahn (1957-) pode fazer com que eu me aproxime mais da Sagrada Escritura de forma sistemática com o auxílio dos santos padres que já interpretaram as passagens para nós.

Além disso, esse Caderno traz também uma contextualização de como o Livro Sagrado foi escrito e os locais que se passa a história.

Mesmo já tendo lido o livro Gênesis outras vezes (creio que é o livro que mais li da Bíblia), esse Caderno de Estudos trouxe alguns pontos que eu não tive o discernimento de entender sozinho e que agora ficaram mais claros para mim.

domingo, agosto 11, 2024

A Ladeira da Memória

Nunca tinha ouvido falar do escritor José Geraldo Vieira (1897-1977) e que grata surpresa eu tive em ler o seu romance A Ladeira da Memória (1950).

Enquanto a maioria dos escritores da sua época escreviam sobre o interior do Brasil, José Geraldo Vieira optava por uma escrita de cunho mais universal. A Ladeira da Memória, foge um pouco da ambientação europeia, muito comum em outros romances, ficando mais ambientada no Rio de Janeiro e interior de São Paulo.

A história é escrita no período da 2ª Guerra Mundial e conta história de amor proibido entre Jorge e Renata. Só que se trata de um tipo de romance que confesso que nunca vi entre os autores brasileiros, um tipo de amor não envolto em paixões carnais, mas um pouco mais sublime, do tipo sacrificial. Renata é casada, e Jorge, além de médico, escreve romances (autobiográfia do autor), Renata vive entre um dilema de manter um casamento, tendo em vista a sua visão de sacralidade e deveres conjugais para com seu marido, que quase nunca se faz presente e o amor que alimenta por Jorge.

O romance segue até que se descobre que Renata tem tuberculose (doença fatal na época) temos aí um grande momento de como o destino pode influenciar na vida das pessoas, o cenário descrevendo a morte de Renata é um dos momentos mais dramáticos e bem descritos do livro. O título da obra "Ladeira da Memória" remete a uma rua descrita pelo tio de Jorge, sobre as cenas do seu casamento, o desembargador Rangel convida após o drama da morte de Renata a subir a Ladeira da Memória, para desse modo resgatar a sua própria alma que se foi com sua amada.